terça-feira, 22 de março de 2011

Vidas que vão. Obras que ficam.


A morte é uma coisa que me arrepia. E sendo quase sempre algo tão inesperado, mais difícil fica lidar com ela. Quando acordo de manhã e me deparo com a notícia da morte de alguém, quer conheça pessoalmente, quer não, é um murro no estômago e faz-me lembrar sempre o quão efémeros somos. É cliché mas é tão verdade. 
A idade tem disto, vermos morrer pessoas que nós crescemos a olhar para elas. Seja pela televisão, pela música que ouvimos, pelos livros que lemos, o que é facto é que criamos um sentimento pelas pessoas. Seja de admiração, seja de discordância, quando morrem abala-nos. A consciência que uma pessoa não volta a dar uma entrevista, não volta a escrever um livro, não volta a fazer uma peça de teatro, não volta a respirar é uma ideia que me assusta e me deixa sempre cheia de medo. Lembro-me no verão quando, depois de uma bela tarde de praia, liguei o rádio do carro e ouvi que o António Feio morreu, quase parei de respirar de tão angustiada que fiquei. Nunca o vi ao vivo, nunca fui uma fã, mas era o António Feio. Um actor. Uma pessoa que fazia parte da minha existência. Aconteceu o mesmo quando faleceram a Rosa Lobato Faria, a Mariana Rey Monteiro, Raul Solnado, a Sophia de Mello Breyner, o José Saramago, o Saldanha Sanches e hoje, o grande Artur Agostinho. É certo que todos deixaram grandes obras. Tiveram vidas marcadas entre a luta, a coragem e a ousadia. Serão eternamente reconhecidas e recordadas. Mas já não estão cá!
Ingenuamente penso sempre que as pessoas famosas, conhecidas, não morrem. São eternas, intocáveis e que nada de mal lhes acontecerá. E de repente, acordamos um dia de manhã e elas partiram para outro sítio. 
Se tantas vezes me queixo que a vida passa depressa de mais, quando alguém se vai embora, mais me custa vê-la passar cheia de determinação. Mas é a vida. Às vezes uma porcaria, mas só temos uma e temos que aprender a viver enquanto temos esse privilégio!

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