sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A moda do telemóvel numa mão e da vassoura na outra

Já perdi a conta às senhoras de limpeza que vejo nas estações de comboio, no metro e em tantos outros sítios a falarem ao telemóvel e, ao mesmo tempo, tentarem varrer, limpar e pegar na pá.
À uns meses desci na estação de Sta Apolónia e fui ao wc mudar de roupa, porque não tinha tempo de ir a casa fazê-lo, nem queria  fazer a viagem com o vestido a que ía ao crisma do meu afilhado, sob pena de parecer que vinha directa da máquina de lavar. Então trouxe-o direitinho num cabide e quando chegasse a Lisboa era só enfiá-lo no corpo. Tudo muito bem até aparecer a senhora da limpeza que entrou a falar aos gritos com  o  telemóvel numa mão e com a esfregona na outra, até que de repente noto que os gritos já não são para o telemóvel mas para mim. Que tinha que sair dali já, que ela queria limpar, que tinha que fechar a porta à chave(?!) e nesta explicação o telemóvel continuava ligado. Só quando me apercebi que estava aos gritos comigo, já ela ía a meio de tanto praguejo. Disse-lhe educadamente que me despachava num instante, mas a senhora continuou muito exaltada até que, a minha paciência me deixou por uns momentos e levou com: saio daqui quando  entender, quando estiver pronta, se quiser limpar vá começando ou então espere que eu saia de uma casa de banho que é pública, a que eu tenho todo o direito de usufruir, e com certeza que não vai ser a senhora a ditar as horas e o tempo em que posso usa-la! -Eu juro que sou um doce de menina- E pronto, a senhora lá retomou a sua conversa telefónica (devia ser moxe, para esperar tanto tempo...), num dialecto que eu desconheço e em que, aposto todos os feijões cá de casa, que era a falar mal de mim. A moral da história é que aquela pressa de asseio ficou mesmo pela intenção, porque enquanto estive lá dentro a zona das sanitas estavam livres e continuavam nojentas, os lavabos e as torneiras continuavam castanhas e eu só estava a usar um espelho a um canto para me poder maquilhar. Com 1,56 m e 46 kg de gente não ocupava espaço suficiente que a impedisse de trabalhar. Cheguei realmente à conclusão que o que ela queria mesmo, era estar na conversa e de preferência, que o chefe não a visse, não fosse ela direitinha para o olho da rua e sabe Deus como está difícil arranjar um trabalho onde se é paga para falar ao telemóvel. Quando saí estive mesmo com vontade de apresentar queixa por escrito ao chefe da estação, mas acho que a luz que o meu afilhado ía receber, passou por mim antes de ir para a igreja de St António e dissuadiu-me. Ah, quando eu saí a senhora continuou sentada na sua conversa.

Passado uns meses, fui de férias com o namorado e num wc do local onde ficámos instalados, sempre que encontrava a senhora da limpeza estava ao telemóvel. Despejava o balde do lixo, limpava as louças da casa de banho, trocava os rolos vazios pelos de papel e tudo isto ao telefone. A falar de uma forma muito mais moderada, portanto uma senhora civilizada, mas fosse de manhã ou ao fim do dia lá estava ela à conversa e a fazer o seu serviço. Não levem a mal eu questionar, porque isto, cada um trabalha como gosta, mas... será que as casas de banho ficam mesmo limpas e asseadas, tendo em conta que são centenas as pessoas que a usam? E, atenção, não estou com isto a pôr em causa a utilidade de alguém que tenha que fazer várias tarefas apenas com um membro. Se fossem incapacitadas de um dos membros superiores, eu não punha de modo algum em causa as capacidades dessas senhoras. Porque a partir do momento, por alguma fatalidade da vida, uma pessoa precisar de dar ao seu membro o dobro da sua funcionalidade, o organismo está apto para o memorizar e fá-lo-á eficientemente. Já dizia a minha professora de neuro-muscular que a função faz o órgão. Aqui não é essa a questão. Mas com uma pessoa, completamente funcional ao nível dos braços, não me convençam que o trabalho fica bem feito e que as coisas sejam bem limpas, porque não ficam. Mas pronto, a senhora precisa da outra mão para falar ao telemóvel. Há que ter prioridades.

Hoje, no metro do Marquês de Pombal, estava eu a carregar o meu bilhete com o multibanco e a retirar os talões - o comprovativo de carregamento e o talão do multibanco- quando a senhora da limpeza, adivinhem, com o telemóvel numa mão e a tentar equilibrar uma vassoura e uma pá na outra, pára a sua conversa e teima comigo que os dois talões que estava a arrumar não eram os meus. E eu respondi que sim, que eram, e ela que não que não eram, e eu ,sim são, e ela num rasgo de luz disse: "ah, pagou por multibanco"?  E eu dei por mim com cara de parva a olhar para a senhora e pensei: "mas que raio tens tu que ver com isso!?" e no mesmo instante, ouço-a a retomar a conversa e a dizer: "desculpa lá, é que estava aqui a falar com uma senhora e meti-me onde não devia." Vá lá... mas limpar casas-de-banho, manter as estações limpas, sem papéis, sem jornais "Metro" espalhados pelo chão é que está quieto. 
Como em todas as profissões, há bons e maus profissionais e quero deixar bem claro o meu respeito por todas as pessoas que têm o digníssimo trabalho de limpezas. Muitos familiares meus o fizeram e, alguns, ainda o fazem. Não se trata da profissão em si, mas da falta de brio com que é feita, pelo menos nestes três casos.

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