sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um Rapaz igual aos outros

Ontem fui ao Pingo Doce comprar pão. Estava na fila em frente à porta de entrada quando entrou um rapaz com um segurança atrás dele. Era um rapaz normal, não era mendigo, apresentava-se de uma forma limpa, perfeitamente comum igual a tantos outros. Mas ao olhar-lhe para a cara houve qualquer coisa nos olhos dele que me fizeram engolir em seco. Olho para o segurança que o seguia e vejo que trazia numa mão uma peça de roupa em ganga e um pacote de leite na outra. O rapaz entrou no supermercado meio cabisbaixo enquanto o segurança lhe dava ordens para que direcção devia seguir. Entraram os dois para uma porta de acesso restrito e no mesmo instante que a porta se fechou voltou-se a abrir com outra pessoa, que obviamente teve de sair para não presenciar o que se passaria. E isto tudo mexeu comigo. O olhar do rapaz mexeu comigo. E o pacote de leite mexeu comigo. 
Roubar é uma atitude má, reprovável, injusta para quem tem que gastar dinheiro no que precisa e outros a levarem o que querem sem o merecer. E é ainda mais revoltante quando se rouba para enriquecer, quando há maldade, quando se magoam pessoas. Quando há grupos de fedelhos que entram num supermercado e vandalizam e roubam álcool, rebuçados, batatas fritas que claramente não é para lhes matar a fome. Mas não consigo sentir nenhum sentimento mau quando me lembro daquele rapaz, que deu-me a sensação  de sentir-se profundamente humilhado e triste por ter sido apanhado a roubar um litro de leite. Algo que todos deveriam ter, que todos deviam dar como certo, que todos merecem e que todos precisam. Não sei se foi a primeira vez, ou se já é regular ter que roubar para comer. Também não sei o que se passou para lá daquela porta de acesso restrito, mas posso assegurar que me incomodou...muito!

Sem comentários: