quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Paris

Tinha uns cinco anos a primeira vez que fui a Paris. Depois voltei lá aos dez, aos treze e aos quinze. Quando entrei para o ciclo escolhi a opção de francês, a sonoridade da língua fascinava-me. O meu tio levava-me com ele sempre que podia e passava grandes temporadas lá em casa. Obrigava-me a contar os números todos até cem e a repetir vocabulário. Um dia a minha tia decidiu mandar-me comprar uma Baguete. Claro que lhe disse que não sabia falar francês, que tinha vergonha, que ia-me perder pelo caminho mas ela não se demoveu. Escreveu-me a frase num papel, repetiu-a comigo uma vez e ala-que-se-faz-tarde. E eu fui, num misto de nervoso miudinho com uma alegria que me enchia os pulmões de estar em Paris a fazer um recado em francês, como se pertencesse aquela cidade e morasse ali desde sempre. Cheguei à padaria e a senhora muito sorridente disse-me Bonjour e eu sorri e disse-lhe a medo "Et une demi baguette s'il vous plaît." No meio daqueles segundos de hesitação fiquei à espera que ela não tivesse compreendido nada do que eu disse, mas não, ela sorriu e trouxe-me uma enorme baguete mais meia como lhe tinha pedido. Paguei, disse obrigada e vim da padaria aos saltos até casa, feliz e orgulhosa. 
Acho que foi desde os treze anos que o fascínio francês se apoderou de mim e que sempre que podia escapava-me para lá. Sentia-me tão em casa que aos vinte e três voltei lá sem precisar de ajuda de nenhum mapa. Sabia perfeitamente onde queria ir, como lá chegar  e com grande à-vontade. Claro que o francês desapareceu e eram poucas as palavras que eu me lembrava, mesmo assim conseguia perceber o que lia e o que ouvia. As saudades de voltar começam sempre quando estou de partida e continuo a dizer que adorava morar em Paris. Adoro música francesa, vejo todos os filmes que sejam lá filmados, gosto da classe das pessoas, gosto do ritual do copo de vinho ao fim do dia, gosto da fachada de cada prédio e nunca me canso de ver tudo aquilo que já vi dezenas de vezes. É como se quisesse absorver tudo e trazer tudo comigo.
Já à muito tempo que  andava a suspirar por Paris e a sonhar em passar o Natal e o Ano Novo entre a Torre Eiffel e o Sena. E é este ano que se vai concretizar. Tive a sorte de receber uma prenda adiantada e ofereceram-me a viagem. Não consigo expressar a felicidade que senti quando ouvi essas palavras dos meus tios. Principalmente quando tenho a sorte de partilhar estes dias mágicos com a mãe e com o namorado. Não, não posso pedir mais. Só esta prenda vale por todas e mesmo que não tenha nenhum embrulho para abrir no Natal, considero que esta prenda é a prenda mais bonita que poderia ter. Já desembrulhei, no dia que tive os bilhetes na mão.
É nestas alturas que me sinto abençoada. Completamente abençoada. 
 



Obrigada tia M. e tio A.

1 comentário:

Sara disse...

Apesar das coisas que eu digo e que tiram ilusões mesmo quando tenho razão, quero dizer-te que gosto disto. :)